Mais um dos devaneios cotidianos…

Me mudei em março de 2014, lá se foram 09 anos. E esse final de semana viajei até minha cidade natal, e uma chuva de intensas emoções quase me afogou, apesar de exteriormente eu parecer perfeitamente calma. Antes de minha mãe falecer, o plano original era me formar, voltar para casa e arrumar um emprego na região, meu objetivo era permanecer ao lado dela, ter uma vida confortável e nada agitada. Quando ela faleceu um mundo de possibilidade e de incertezas se abriu, optei por continuar em Chapecó, em seguir o caminho acadêmico. Caminho esse que aos trancos e barrancos continuo seguindo. E observando a cidade, fiquei imaginando como seria minha vida se eu realmente tivesse voltado. Será que eu estaria feliz, satisfeita em levar uma vida baseada na calmaria, e no desconhecido? Hoje não me imagino mais voltar, meu lar é Chapecó. Não consigo desejar esse silêncio, vazio, hoje a cidade só me traz nostalgia. Saudade de um tempo que eu tenho saudade, mas que tenho certeza que não me levaria para um lugar melhor.

Devaneios

Deveria estar escrevendo a minha tese, mas quintas-feiras são cansativas. Trabalhei das 07:30 as 13:00, sete aulas, entre nonos, primeiros e segundos anos. Fui da proclamação da república ao iluminismo. Cheguei em casa mentalmente exausta. Não consegui fazer nada a tarde toda, além de ficar deitada olhando vídeos aleatórios nas redes sociais. Pouco depois das 18:00 fiz um chimarrão, derrubei em cima do meu not, limpei a bagunça e voltei a me sentar para começar o ritual da escrita. Depois do chimarrão tomei uma taça de vinho, um vinho aguado, comprado na fruteira para fins culinários, mas que na falta de opção virou a bebida do dia. E escrevi, tentei escrever, nada parece bom. Agora estou aqui, ouvindo rock dos anos 80, devaneando, e sentindo saudade dos meus dramas adolescentes!

28 de novembro

Em 28 de novembro de 2014 eu tinha 17 anos, estava no segundo semestre da faculdade de História, tinha um namoradinho que encontrei no Ensino Médio e foi o dia que perdi minha mãe. Depois que a perdi nada mais importava, nem o namoro, nem a faculdade, nem a minha vida. Eu seguia o fluxo, anestesiada, fingindo saber lidar com o turbilhão de emoções internas e externas também. Hoje fazem oito anos, e ainda não sei como soube lidar. Ainda desejo desesperadamente a ter comigo, para compartilhar as pequenas e grandes conquistas. Queria saber o que ela acha do doutorado, do meu atual namorado que em pouco tempo será meu marido, do apartamento que escolhemos para ser o nosso lar. No dia da mudança desejei em silêncio que ela estivesse comigo, mesmo que para xingar. Te amo, mãe. Dias 28 de novembro ganharam um significado dolorido demais.

Exaustão

Estou com várias páginas do Word abertas, numa tentativa desesperada de construir o segundo capítulo da minha tese, somando-se aos inúmeros arquivos também abertos. Tudo desordenado, um caos, como minha cabeça. Os últimos dias estão cansativos mentalmente e me sinto exausta e apática com o que acontece fora dos limites da minha janela. A confusão interna está quase mais barulhenta do que a externa e olha que estamos no meio das eleições presidenciais e de um segundo turno disputadíssimo. Pior de tudo é não saber como organizar tudo e voltar a viver normalmente. Os planos que eu tinha meticulosamente planejado para os três últimos meses do ano ruíram e tenho que lidar com isso, mas a onda de apatia faz com que eu não ligue para nada e ignore tudo que saiu do controle, fingindo que esta tudo bem, mas não está. Enfim, vou seguir noite adentro, com minha apatia, Anjos do Hanngar e alguma bebida barata para tentar afogar essa exaustão mental.

Carta aberta a saudade!

No dia 15 de outubro de 2022, minha mãe, se viva, completaria 64 anos de idade. Dia 15 de outubro é comemorado dia dos professores, profissão que escolhi exercer. Então é sempre um misto de emoções! O último ano que passei dia 15 com ela, foi em 2014. Era uma quarta-feira, não tinha aula na Universidade, peguei um ônibus as 09 horas e cheguei na minha cidade as 14:30. Minha mãe estava trabalhando, então fiquei com ela no trabalho até umas 17:30, depois conversamos e ficamos tentadas a comprar um bolo, porque afinal era o aniversário dela e queríamos comemorar. Por fim fomos na padaria, compramos um bolo de abacaxi e fomos felizes para casa. Na semana do aniversário a doença já tinha dado os primeiros sinais, mas acreditávamos que era só mais um episódio da menopausa. Minha mãe sofreu bastante durante a menopausa, ela até foi no médico, fez alguns exames e aparentemente tudo estava bem, mas no fim não estava! Ela teve câncer no ovário, não lembro se o esquerdo ou o direito, e no fígado, foi o no fígado que a matou. Até hoje não sabemos qual dos dois surgiu primeiro, em abril ela fez uma ultrassom e o câncer do ovário não apareceu. Foi algo rápido, intenso e assustador. Mês de outubro é cheio de saudade, meu coração transborda! Mas entendo que tive a melhor mãe que poderia ter, e sei que ela me amava, assim como eu a amo mais que tudo. Mas esquecer do tom de voz e do cheiro vem me assustando, sei que é normal com o tempo, mas queria lembrar desses pequenos detalhes que aquecem o coração.

Saudades, minha mãe! Sei que espiritualmente continua comigo sempre que preciso! Mas queria poder partilhar da tua presença física por mais tempo, queria poder voltar para casa, porque minha casa, meu lar foi sempre você!

Exausta

Quando dizem que trabalhar e escrever a tese de doutorado é tranquilo é uma mentira descarada. Me sinto exausta a maior parte do tempo! Não tenho tempo livre, pelo menos não sem culpa! Sempre acho que não faço o suficiente e fico contestando se tudo isso vai compensar no futuro. O cenário é assustado, estou exausta de me sentir exausta o tempo todo, queria ter o poder de escolher ou um ou outro! Não estou feliz, isso está me matando aos poucos.

Sobrenome

Minha mãe não gostava de seu sobrenome de solteira. Por muito tempo acreditei que era devido a sonoridade, sempre achei o sobrenome de meu pai, Venson, mais sonoro, mas a pouco tempo, talvez devido as sessões de terapia percebo que sonoridade era o de menos. O sobrenome de solteira a lembrava do pai, da morte precoce da mãe, e da violência física e verbal que sofreu constantemente de meu avô. Quando se divorciou legalmente de meu pai, uma das suas poucas exigências era de que pudesse continuar com o sobrenome de casada, e assim se sucedeu. Hoje, estou aqui devaneando, e morrendo de saudades de minha mãe.

Cotidiano

O hábito de escrever vai sendo engolido pelo cotidiano intenso. Pelas aulas a serem planejadas e ministradas, pelas páginas da tese que precisam ser escritas, reescritas e analisadas. Estou no auge, onde nunca imaginei estar. Relacionamento estável, um bom emprego, doutorado e na terapia uma vez por semana. E se tudo der certo, ano que vem estarei morando no meu apartamento, com a pessoa que escolhi para compartilhar minha vida. Tudo está fluindo, mas o sentimento de ausência, falta continua aqui, e volte e meia é maior do que meus pensamentos. Um dia de cada vez, com meus próprios dramas dessa vez, respirando fundo e seguindo, o caminho está mais lindo do que um dia imaginei que estaria!

08 de Fevereiro de 2021

Tem dias que não consigo me concentrar. Tomo o meu café, ligo meu computador, coloco uma música instrumental que normalmente embala meus dias de estudos, abro os arquivos, livros, artigos, e tudo mais que acho necessário, respiro fundo, tomo água, e nada flui. E apesar da ansiedade que vai me consumindo em cada tentativa de manter a concentração e de fazer as 15 tarefas agendadas para o dia de hoje eu continuo tentando. Tentando não surtar!

Um passo de cada vez, um minuto, uma hora, um dia, tudo a seu tempo, pena que minha cabeça não acredita nisso e continua querendo me sabotar e a surtar toda vez que alguém me liga com um drama diferente que na verdade eu gostaria de nem saber. Meu ano de 2020 e esse primeiro mês de 2021 se resume a dramas, que nem são os meus dramas, que me saturam e que me forçam a tentar manter o auto controle, por vezes o meu refúgio é desligar o celular, deslogar das redes sociais e fingir que não me importo, com as milhões de ligações perdidas e mensagens. Meu desejo de 2021 é não continuar sendo o refúgio de tantos que desabafam seus problemas sobre mim e esquecem que sou só uma mulher, sozinha, tentando manter a sanidade mental longe de todos que tentam me sugar a pouca esperança que ainda me resta! #Paz